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                                             Itumbiara...

           Desde criança quis me mudar daqui. Sempre me imaginei em outra cidade, que fosse movimentada, com muitos lugares para passear, grandes universidades, shoppings... Meu olhar de criança me permitia ver apenas o que eles literalmente alcançavam. Via as dificuldades financeiras enfrentadas pelos meus pais, conhecia bem as longas distâncias percorridas entre uma região e outra de Itumbiara, caminho sempre feito a pé. Também era a pé que chegava à escola e ao trabalho, ainda criança. Meus sentimentos por Itumbiara se confundiam com o que eu não queria para minha vida. Adolescente também queria sair, estudar fora, conhecer outras pessoas e mais uma vez não fui. Cursei a faculdade aqui em Itumbiara.

          Mas por um breve período deixei minha cidade. Adulta e sozinha fui viver em outra cidade. Só então comecei a olhar para Itumbiara. Eu já não morava aqui, então passei a vê-la com olhar de visitante, mas uma visitante que conhecia tudo. E gostava de vir. E percebi que enquanto eu vivia aqui não me dava conta da sensação de pertencimento ao lugar. E retornei e posso hoje dizer que Itumbiara é a minha cidade.

            Itumbiara é linda, maltratada pelo descaso político, mas muito bonita. Quem passeia pelas margens do Rio Paranaíba, vislumbra quase três quilômetros de uma paisagem magnifica. As águas esverdeadas do Rio, espelham um assíduo céu azul ao longo do dia e as luzes da Ponte Affonso Penna à noite.  Entre os meses de agosto e outubro, as calçadas do centro da cidade cobrem-se das flores dos ipês, em sua maioria cor-de-rosa, o que contrasta com a secura do restante da paisagem dessa cidade quente e abafada.

          É lugar comum dizer que Itumbiara carrega minha história e eu faço parte da sua história. Mas sim... minha história compõe a história da cidade e vice-versa. Minhas lembranças da infância reconstituem um pouco da paisagem, pelo menos do que mais me assustava ou alegrava. As memórias são assim...

       Poderia, se um dia me perguntassem, explicar como era o aspecto das ruas do centro da cidade quando o Córrego Trindade transbordava e a água invadia as lojas causando inúmeros prejuízos. Como me lembro? Caminhei pelas ruas com a água nos tornozelos, segurando a mão de meu pai e morrendo de medo de ser levada pela água. Também me lembro de minha tia Iraídes comentar que a Casa da Sorte (loja de tecidos que ficava entre a Rua Minas Gerais e Rua Santa Rita) vendia muito barato as mercadorias após as enchentes que só cessaram no final da década de 1980 com a canalização do córrego.

          Também me lembro bem dos clubes que não existem mais, o Náutico Clube, O Clube Recreativo, O Clube dos 50, este frequentado pela elite local. Acompanhei o asfalto chegar a várias ruas, avenidas serem abertas, bairros inteiros surgirem, nomes de ruas serem trocados, acompanhei e pude opinar sobre acontecimentos e fatos que marcaram a cidade. Enfim, o tempo passou para nós.  Não tenho mais o mesmo olhar pela cidade, mas ela também não é mais a mesma. E essa dinâmica transformação de vidas é instigante. Não estarei viva daqui uma centena de anos, isso é certo, mas parte do que fiz compôs a história dessa cidade, ainda que meu nome não figure nos livros de história, talvez nem da história local. Ainda assim, eu sei que faço parte dessa história, estive aqui, contribuo para mudanças nessa urbe, faço parte dessa história e presente da cidade.

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